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Quinta, 14 de janeiro de 2010, 09h55
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Cartão de crédito: garantir conta corrente dos lojistas é o desafio para bancos


No ambiente de maior competitividade que se ensaia no Brasil com a quebra do duopólio Cielo (antiga Visanet) e Redecard no credenciamento de lojistas para uso de cartão de crédito e débito, o jogo nos bastidores promete ser predominantemente bancário. De um lado estão as instituições financeiras que detêm fatias relevantes nas credenciadoras, caso de Banco do Brasil e Bradesco, com 27% e 24% da Cielo, respectivamente, além do Itaú Unibanco, com metade do capital da Redecard. Na ponta oposta desse cabo de guerra estão bancos que já se habilitaram junto à Mastercard - e futuramente devem fazer o mesmo com a Visa - para atuar no relacionamento direto com os estabelecimentos comerciais. O que está em xeque, agora, é a garantia da conta bancária dos lojistas e seu fluxo de faturas de débito e crédito, o chamado domicílio bancário.
 
"Atualmente, cada banco busca o seu espaço como domiciliador, quer marcar o território mesmo, porque é pelo adquirente que as instituições chegam a um volume razoável de clientes e podem fazer adiantamentos com base em recebíveis de alta liquidez", diz o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Paulo Caffarelli. Além de fidelizar o lojista, a antecipação de receitas pode ser a porta para a oferta de outros produtos e serviços financeiros.
 
Não por outra razão, o Santander mantém conversações com a GetNet para avançar no negócio de credenciamento no Brasil. A instituição já tem licença da Mastercard para operar no segmento e, entre outros com a mesma habilitação - Ibi, HSBC e Tribanco são os nomes citados -, é a que aparece com mais condições de ameaçar a hegemonia de Cielo e Redecard, segundo analistas.
 
De acordo com cálculos da área de pesquisa do Goldman Sachs, com base no número de agências espalhadas pelo país, o banco espanhol poderia abocanhar participação de 10% do mercado em cinco anos, com presença em 225 mil lojistas, enquanto outras credenciadoras menores ficariam com 5%. Para se ter uma ideia do distanciamento entre as líderes, a Cielo conta com 1,6 milhão de estabelecimentos credenciados, enquanto a Redecard cobre 1,2 milhão.
 
Embora o modelo de negócio do Santander ainda não seja conhecido, a expectativa é de que o o banco fique na linha de frente, tendo como alvo estabelecimentos de pequeno e médio porte, enquanto a GetNet forneceria a estrutura de processamento e de "backoffice".
 
Segundo análise do Goldman, no negócio puro de credenciamento, o Santander poderia operar virtualmente no equilíbrio, sem lucros ou perdas, para estender os serviços bancários para além do simples desconto de recebíveis. Nesse cenário, os analistas do banco americano estimam que, até 2015, a instituição estaria financiando 30% do total de transações capturadas, com o negócio rodando com uma margem líquida de 16%.
 
Apesar de a atividade de credenciamento ainda estar em estágio embrionário, o Santander pode conquistar parcelas significativas de "market share" das empresas já estabelecidas, porque tem cerca de 5% dos domicílios bancários da Redecard e aproximadamente 10% da Cielo, segundo análise do Barclays Capital. Assim, seu mercado potencial de crédito e débito, considerada uma pequena margem de não retenção, seria entre 7% e 8%, mas dependendo da agressividade para atrair contas adicionais, poderia atingir uma fatia de 10% do bolo já em 2011.
 
Se o Santander partir mesmo para a afiliação de lojistas, a tendência é tomar para si os resultados dessa atividade e pagar um valor por transação para a GetNet pela prestação dos serviços de processamento e de "backoffice", diz Edson Santos, da Co-Link, consultoria especializada em meios eletrônicos de pagamento. "A instituição pode usar a 'acquirer' para ganhar clientes, deve ser uma credenciadora mais barata, pode até colocar o POS de graça para garantir tanto a conta bancária do lojista quanto as transações com cartões."
 
O fato é que o cenário de competição já começa a mudar e a quantidade de players oriundos do lado bancário tende a aumentar ameaçando a base de Redecard e Cielo, acrescenta a análise do Barclays. As credenciadoras líderes teriam de desenvolver um outro tipo de relacionamento com as instituições para defender a sua base. Uma possibilidade é oferecerem uma pequena comissão ou rebate sobre a taxa de desconto para os novos lojistas capturados pelos bancos. Em alguma medida, esse é um modelo que já existe no país. Caffarelli, da Abecs e também vice-presidente do Banco do Brasil, diz que não é incomum a instituição atuar credenciando lojistas, sempre com o suporte da Cielo.
 
Assim como o BB, os demais bancos com participação no capital social da Cielo ou da Redecard dificilmente vão concorrer com as companhias em que são sócios, prevê a analista da Link Investimentos, Mariana Taddeo. Para a especialista, a transferência das ações da Cielo remanescentes da aquisição do Real pelo Santander para a matriz espanhola objetivou evitar qualquer conflito de interesses nessa área. Os demais bancos, que não têm fatias nas credenciadoras como Caixa Econômica Federal, Safra ou HSBC, podem seguir o modelo do Santander e procurar parceiros para as atividades de retaguarda". "Para as instituições, não vale a pena ter toda a estrutura de tecnologia e de máquinas, o custo por transação seria muito elevado e os resultados operacionais baixos", diz.
 
Conforme publicado pelo Valor em 8 de janeiro, o HSBC estuda opções para atuar na área: tornar-se um adquirente ou negociar contratos com as grandes do setor em que o banco faria o credenciamento e usaria a estrutura de processamento das empresas, com participação na receita. Seria uma receita adicional à chamada taxa de intercâmbio, que é o pedaço do custo cobrado dos lojistas pelas credenciadoras que é repassada aos emissores. Com uma ou outra estratégia, o banco deixa claro que quer garantir o domicílio bancário de 150 mil estabelecimentos comerciais na sua base de clientes. O analista de um banco estrangeiro avalia que, com essa base, o negócio de credenciamento isoladamente não seria muito rentável.
 
"Trata-se de um mercado atrativo, com retornos elevados e potencial de crescimento, mas não adianta entrar se não tiver musculatura para competir, é um negócio que exige escala e quem tem tamanho para incomodar é o Santander", diz a analista da Ativa Corretora, Laura Lyra. Para a especialista, pequenas credenciadoras teriam espaço em nichos em que Redecard e Cielo não têm dominância, como consultórios médicos, taxis ou transações por celular. "Redecard e Visanet enxergam potencial nesses segmentos, mas não têm como olhar isso agora porque precisam defender a sua base atual."
 
Fonte: Valor Econômico
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