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Segunda, 04 de janeiro de 2010, 09h25
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Em rota de crescimento


Por aqui, foi notável a capacidade de reação do País, ancorado no fortalecimento do mercado doméstico, que amenizou os efeitos da restrição externa.O ano de 2009 chega ao fim e a sensação por todo mundo é de que, embora a crise tenha causado grandes estragos, não se concretizou a tragédia anunciada. A duração da crise foi mais curta do que o previsto e até mesmo a economia norte-americana, uma das mais prejudicadas, já tem apresentado resultados que sugerem uma recuperação gradual. Lá, os gastos das famílias voltaram a crescer, as perdas no mercado de trabalho estão diminuindo e inclusive o setor residencial, o berço da crise do subprime, tem melhorado.

Por aqui, foi notável a capacidade de reação do País, ancorado no fortalecimento do mercado doméstico, que amenizou os efeitos da restrição externa. No primeiro momento, diante da limitação das concessões de crédito, a evolução consistente da massa salarial, que avançou mesmo em tempo de perdas no mercado de trabalho, permitiu que o consumo das famílias migrasse para bens mais relacionados ao nível de renda, e que, portanto, não dependiam fortemente do crédito. À medida que este último foi sendo normalizado, o consumo de bens de maior valor agregado foi sendo retomado, favorecido ainda pela melhora na confiança dos consumidores e por incentivos fiscais, como as desonerações do IPI.

Esta conjuntura permitiu à economia brasileira obter em novembro o recorde histórico na geração de empregos para aquele mês: 246,7 mil empregos gerados, dos quais mais 80% ficaram a cargo do comércio de bens, serviços e turismo. Até mesmo o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, que veio abaixo das expectativas, deve ser avaliado com ressalvas. Além da mudança metodológica que contribuiu para um resultado mais contido, o crescimento de 1,3% ante o segundo trimestre foi comprimido pela variação negativa dos estoques, o que, apesar ter efeito contrário sobre o resultado, representa um aquecimento da demanda que, ao diminuir a capacidade produtiva ociosa, leva a novos investimentos.

Considerando-se que ainda há margem remanescente na capacidade de produção, como bem disse o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na ata de sua última reunião, esse aquecimento da demanda doméstica não gera riscos inflacionários, mitigados ainda pelo dólar desvalorizado. De tal maneira, confirma-se um cenário benigno para a inflação, que deverá fazer com que o Copom mantenha os juros em 8,75% em sua próxima reunião.

No entanto, assim como há consenso em torno de um desempenho favorável da economia brasileira em 2010, quando o PIB deverá crescer acima de 5%, também há um alerta disseminado dos riscos que o crescimento dos gastos permanentes do governo impõe a este horizonte positivo. O País poderia crescer ainda mais, não fossem estas despesas pesarem sobre a absorção doméstica em detrimento dos investimentos, e, assim, comprometerem uma flexibilização monetária capaz de levar nossos juros reais ao padrão internacional, movimento fundamental à competitividade do País.

Como temos repetidamente discorrido neste espaço, é premente a necessidade de se atentar para questões estruturais, que, pendentes, continuam a resultar num custo de oportunidade de se crescer ainda mais. Não obstante a carência de um ajuste fiscal que permita a diminuição de nossa pesada carga tributária, a burocracia persiste excessiva e o acesso ao crédito, além de custoso, permanece restrito para as micro e pequenas empresas.

Enquanto isso, a votação do Cadastro Positivo, iniciativa que tende a permitir crédito mais farto a custos menores, foi adiada para 2010.

Embora a maré esteja tranquila, não se pode descuidar do rumo dos ventos. É preciso garantir um crescimento consistente e, para isso, são fundamentais as reformas estruturais, assim como gastar de forma eficiente e abrir espaço para menos impostos e juros mais baixos.

A todos, um próspero 2010.
Fonte: Editorial Jornal do Commércio
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