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Segunda, 04 de janeiro de 2010, 09h27
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O Brasil em 2010 * Por Armando Castelar


A previsão mediana de mercado, conforme pesquisa do Banco Central (BC), é de alta de 5,1% do PIB, puxada pela indústria e o investimento. Este ano termina bem melhor do que começou, com o PIB em alta, o desemprego em queda e a inflação sob controle. O cenário externo ainda causa preocupação, mas a economia mundial também se recupera e o risco de uma catástrofe semelhante à Grande Depressão está afastado. Dado esse quadro, o que esperar da economia brasileira em 2010?
 
A previsão mediana de mercado, conforme pesquisa do Banco Central (BC), é de alta de 5,1% do PIB, puxada pela indústria e o investimento. Com a população economicamente ativa aumentando estimado 1,3%, a taxa de desemprego deve diminuir entre 1 e 1,5 ponto percentual, para um nível recorde abaixo de 7%. Com isso, o rendimento médio real das pessoas ocupadas deve crescer acima do patamar dos últimos anos, possivelmente mais do que 5%.
 
A expansão da produção e do emprego serão as grandes alavancas do crédito, tanto o bancário quanto o do mercado de capitais. Com menos inadimplência e mais competição, os spreads de juros devem cair, especialmente para as pequenas empresas, cujas condições de acesso ao crédito continuam quase tão apertadas como na crise. O destaque deve ficar para o crédito imobiliário, impulsionando o setor de construção. Os bancos privados, em especial, devem expandir o crédito com vontade, para recuperar parte da participação de mercado perdida para as instituições públicas este ano.
 
Os aumentos da massa salarial e do crédito serão, junto com a expansão do gasto público, o combustível para a forte alta na demanda doméstica – consumo e investimento — que deve subir mais de 6%. Isso é mais do que é possível atualmente crescer a produção, de forma que essa alta elevará o deficit em conta corrente e gerará pressões inflacionárias. O deficit externo vai superar os 2% do PIB, podendo chegar a quase 3%, o que não é um problema nesse nível ou nas atuais condições de financiamento externo, mas pode ser preocupante dependendo da dinâmica que tiver e de ele substituir a poupança doméstica, em vez de alavancar o investimento.
 
O BC não deve assistir passivamente ao fechamento do hiato do PIB e ao aumento das pressões inflacionárias e deve elevar tanto os compulsórios, para um patamar intermediário entre o nível atual e o que prevalecia antes da crise, como a taxa de juros. Há uma divisão entre os profissionais de mercado sobre quando o BC vai iniciar o ciclo de aperto monetário. Alguns acham que, se quiser agir preventivamente e evitar ter de, mais tarde, subir demais os juros, o BC terá de elevá-los ainda no primeiro trimestre de 2010. Para outros, porém, com os índices de inflação ainda bem comportados e a perspectiva de uma disputa eleitoral acirrada, o BC pode preferir esperar e só mais para o final do ano aumentar a taxa Selic.
 
Não é só na política monetária que as eleições podem vir a influir, potencialmente tornando-a mais expansionista do que se poderia esperar em outras circunstâncias. Também a política fiscal deve ser outra vez caracterizada por forte alta nos gastos, algo difícil de justificar depois que se bateu tanto na tecla de que esta era anticíclica. O mesmo deve ocorrer com o crédito público, como sinalizam os R$ 85 bilhões emprestados pelo Tesouro ao BNDES. Isso vai reforçar o argumento daqueles que apontam que tanto o aumento do gasto quanto do crédito público havia sido decidido bem antes da crise e só se tornou anticíciclo por acaso.
 
A economia também vai estar presente nos programas, discursos e debates eleitorais. Infelizmente, porém, os temas aí tratados não serão as reformas de que o país precisa, como a da previdência, a trabalhista e a tributária, mas novas propostas de aumento de gasto. Também vai se criticar a política monetária, a despeito do bom trabalho feito pelo BC antes, durante e após a crise; defender mais subsídios para as grandes empresas, inclusive para turbinar a criação de campeões nacionais; falar mal da privatização, apesar dos inegáveis benefícios que trouxe para o país; e fugir de uma discussão mais séria sobre as medidas necessárias para tornar a educação e a saúde públicas mais eficientes, de forma a fornecer melhores serviços à população.
 
No todo, 2010 vai ser um ano bom. Se ele vai marcar o início de um ciclo de forte crescimento da economia brasileira, vai depender de decidirmos as eleições olhando para o futuro, não para o que ficou para trás, e discutindo a necessidade de conter o gasto público corrente e abrir espaço para mais investimento e menos impostos.
 
Fonte: Jornal Correio Brasiliense/Economista Armando Castelar
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